Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Oceano estéril


Nas encostas ingremes
Nas falésias
Oiço ecos das suas récitas
Uvas no cesto a vindimar

Alegres, cheios de amor, cantam estes homens o seu labor
Têm faina, têm de comer
Época sem receio, três meses sem temor

 Gaivotas soltas em voo picado

No céu azul nacarado
Entoam alegres o seu grasnado

 O mar,
águas de sal,
manto livre extenso e anilado
por homens rudes lavrado,
com redes por arado
debulham o mar

 P´la alvorada
cansados da jornada
rosto encovado da noite dura e apertada
Agarrados á traineira, a sua enxada

Vêm em terra os filhos, ansiosos da chegada
Andrajosos, com frio e olhos de fome
Num lamento choram e clamam
Vem vazia não trás nada

 
Luís Paulo

 

 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Efemeridades


Principiava as primeiras horas do dia, daquele mês de maio,

As andorinhas madrugadoras, adejavam já num bailado ao tom do aroma primaveril,

Aparecias com passo pouco firme, como de uma criança, cingida de inocência… de inculpabilidade…

Mas, um brilho de aventura nos olhos denunciava essa aparência, essa aragem inócua

Penetravas na alcova, e esse mundo impoluto, de candura, de castidade, de lisura tombou. Caiu quando te entregaste abrasada, embriagada de paixão, num amor intenso. Amavas num compasso enérgico, quase violento, num ritmo entusiástico como um faminto á procura de alimento.

Gostavas de viver no limite, a maior parte do tempo no inverso da verdade.

Os poros do teu corpo transpiravam falsidade para com o teu mais próximo, a quem devias lealdade e na cama deitada com a cabeça no peito dos teus amantes, praticavas o teu sorriso tímido, impoluto e dizias ao telemóvel com aquela voz frágil que estavas a trabalhar, “não esperes por mim que vai durar até alto da noite”- mentias… “vou passar o dia com uma amiga”

… Um, falou-te do incómodo que era para ele ouvir essas falsidades, que devias atender o telemóvel e falar noutro local e a sós. Dizia-te que as tuas palavras eram punhais cravados nas costas de quem em ti confiava, porque as anunciavas á frente de um terceiro. Revelou inclusivamente que iria ter dificuldades em confiar em ti, sentiu vergonha de si e do que fazia e das tuas mentiras sem fim. Mas tu rias-te, - “que disparate” – dizias. Mas nunca mais confiou em ti e nunca mais te quis ali.

Há quem recorde francamente aquele dia que te viu na praia. Semblante carregado, indiferente ao mar, às crianças que chapinhavam na água, ao sol que tão generosamente brindava todos os veraneantes, até o cheiro delicado do mar, a maresia, parecia ser-te detestável. Não fizeste um esforço, não te mostraste agradável ao teu mais intimo, ar carrancudo, pesado, que indiciava bem o que te ia na mente, pensamentos espúrios, como águas que correm para um mar de pecados, noites voluptuosas na cama com os amantes

Nessa tua imagem distante, desligada, ficou bem patente, ficou bem assente, que sonhavas apenas com amantes e no prazer prepotente, mas eras apenas uma mulher amarga, infeliz e com amor ausente…

 

Luís Paulo

 

 

 

sábado, 27 de outubro de 2012

Filhos do Infortúnio


Vivo em sonhos, como quimeras abstratas e inalcançáveis

Os dias correm, evoluem para lugar nenhum, como se parassem na hostilidade do tempo, em que ouço os gritos dos mudos em surdina e aplaco a ira divina. Contra seres existenciais estragados, fora de validade á muito e acorro a um deserto de opiniões, de pareceres, e tento mitigar a dor, no horror que alimentam, e parto, parto a um rumo insondado das levezas que o seguram

Sinto a paz dos homens que fazem a guerra, como dias negros de chuvas diluvianas, dias que transborda as misérias, na sensatez rara de mentes que prolifera,

Obliquamente a estrada segue numa aparente inocência, seres esquivos de silhuetas medonhas, fazem-se ouvir nos cantos do mundo e matam de fome os filhos do infortúnio.

Se o período morresse e a tempestade parasse, se o sol agisse e o mundo gritasse, se os pesadelos caíssem e os sonhos deleitassem, se os pérfidos tombassem e os leais se levantassem, o mundo agradecia e às crianças resolvia todo o mal que lhe aplicassem

Mas dias claros se aproximam, se avizinham velozes e inexoráveis, num assombroso amanhecer, Naquele que é a estrela-d’alva

 

Luís Paulo

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Quem és Lisboa


Sou caminhante nas terras do nada

 Como a névoa fátua, também sou passageiro

Nesta estrada fria, triste, sinuosa

Na minha terra sou estrangeiro

Percorro dia e noite ruas descalças

Em busca de calor humano

Dos prédios de esquinas polidas

Meus olhos só vêm desgraças

Lisboa que foste menina

Aos olhos dum poeta verdadeiro

Hoje carregas a desgraça

Que se vê no mundo inteiro

Fogem de ti os teus filhos

P`la vergonha de quem te lida

Partem, vão para outros lugares

Em busca de melhor vida

Com lagrimas nos olhos

Vão-se, ficam saudosos

O tempo esquece o tempo cura

Começam de novo, são felizes

Sem aquela amargura

 

Luís Paulo

 

 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E a seguir ás noites?


A seguir às noites,

Vêm sempre misteriosas madrugadas.

Desperto,

Olho o teto, teto falso, em madeira, pareceu-me de mogno pela sua textura castanho-avermelhado. Não reconheci aquela cobertura, nunca havia estado num quarto de teto semelhante. Senti-me confuso, tinha a certeza de ter acordado mas parecia que vivia um sonho, uma irrealidade. Surpreendido, olho em volta, as paredes brancas, imaculadas, com alguns quadros dispostos por elas, quadros que não recordo que nunca vi e que aumenta a minha perplexidade. A minha surpresa cede lugar a sobressalto, sinto-me desassossegado, não percebo onde estou, não conheço este local, a expressão destes aposentos, esta casa é-me totalmente abstrata, metafisica, apalpo uma sensação de desconhecido fora do real.

 Na mesa-de-cabeceira, avistei um radiodespertador que marcava dez horas e vinte minutos, no chão, descubro uma jarra de vidro partida em vários fragmentos, várias rosas vermelhas encontram-se espalhadas pelo quarto.

Amplio o desconforto, “que aconteceu aqui, a jarra caiu, ou alguém a partiu propositado com estrondo no chão motivado por alguma discussão?”

Estou deitado, nu, o lençol de cetim carmesim tapa-me até á cintura, ao meu lado o lençol esboça uma silhueta, esbelta, curvilínea, escultural, os cabelos desalinhados escondem metade do rosto estético e seguem tombando sobre uns peitos firmes, redondos, de pele aveludada

Ergo -me ligeiramente, socorro o corpo cansado e perplexo com o cotovelo direito e observo esta mulher sublime mas misteriosa. Encontro-me num lugar desconhecido deitado com uma mulher estranha.

Após um breve período a observar, serenei da minha apreensão, confesso que atraído pela visão matinal, o momento não oferecia perigo, antes pelo contrário, eras tranquilidade, paz, o encanto, a serenidade, a pacificidade, o silêncio em que respiravas, apenas o agradável compasso do teu peito mostrava que dormias, que vivias.

Abriste os olhos, um verde-marinho que me agarrou, me pregou ainda mais ao leito, talvez te sentisses espiada no subconsciente e acordaste, não sei, mas sorriste para mim, notaste o meu olhar de espanto, de interrogação e inquiriste: Que se passa, porque me olhas assim?

Apeteceu-me dizer que era a tua beleza que me queimava, que me abrasava, que eras a mulher mais linda que já havia visto. Mas não, num mar de incertezas, mas nos ombros o peso das certezas, apenas perguntei: quem és? Onde estou?

O teu sorriso delicado, encantador, aos poucos esvaeceu, ficaste com ar sério, os olhos apresentavam aquele temporal que acontece subitamente no mar, ficaste triste, sentiste-te infeliz. -Não te lembras?- Perguntaste. Como me mantive calado, continuaste. – Não te lembras de ontem, que passámos o dia juntos? Conhecemo-nos na Fonte da Telha, conversámos toda a tarde, fomos nadar juntos e acabámos por jantar numa esplanada á beira-mar? Depois fomos a um bar, ouvimos música ao vivo, não te lembras? Bem que eu disse para não beberes tanto, mas tu continuavas, falaste que estavas a atravessar um mau momento e bebias…

A minha mente começou a clarear, pausadamente, até que aos poucos conquistei a memória e lembrei de tudo.

Estavas deitada na toalha a ler um livro, protegida pelo guarda-sol quando cheguei, vi-te, fiquei ali, lembro que pensei que eras a coisa mais linda de toda a praia e até mesmo do mar.

Não vias ninguém, estavas no teu mundo, ou no mundo da história do autor, era uma história de amor e eu olhava para ti, sem sentir cansaço, por vezes embaraçado, com medo de te embaraçar, mas tu não reparavas, ou fingias não reparar, não sei…

Até que surgiu uma oportunidade que aproveitei. Uma bola de uns indivíduos que jogavam perto do areal, apanhou-te. Recordo que o teu corpo, o teu desejável corpo e o livro que lias ficaram sujos de areia, mostraste-te desagradada, falaste que deviam jogar mais longe, fui em tua ajuda e a partir daí ficámos a conversar sobre diversos assuntos. Do romance que estavas a ler, “Segredo de uma Promessa” de Danielle Steel, falámos de várias rubricas, diferentes temas, terminámos a falar de poemas, convidei-te para jantar… Foi assim… agora recordo perfeitamente.

Sinto-me miseravelmente envergonhado, pergunto atabalhoadamente se tivemos algo durante a noite, falaste que sim, que tinha sido muito agradável. Não resisti, toda a minha inquietação cedeu lugar á confiança e á alegria e amei-te com deleite mesmo ali…

 

Luís Paulo

 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Tudo isto é Poesia


Poesia não é só versos,
prosa e nem sempre rima

Poesia é tudo o que a vida nos dá e nos ensina

Poesia também é o ar que respiramos e nos dá vida
Poesia está numa árvore, que nos oxigena, nos dá fruto e nos sacia

Poesia é mar,
profundo, misterioso, enigmático, povoado de vida.
Inspirador de poetas, de pintores e outros autores.

Que nos faz pensar, meditar na existência e até chorar.

Que nos faz sorrir, conversar com amigos, brincar,

Habitáculo de amantes que planeiam amar.

Que descobriu novos mundos, novos lugares

Poesia é o mar que tem o privilégio de nos fazer sonhar.

Poesia é o céu
vestido de azul diáfano, estendido, num dia de estio, que a vista algema, que nos fascina,

Poesia é o sol que nos aquece e alumia

As noites!
Os mistérios que as escolta e nos enfeitiça, o céu, aquele lençol escuro, sideral, as multidões de constelações, num brilho cadente cheio de magia,

A lua,
Suspensa, na expansão do nada, na sua extensão de luz que alumia a noite, responsável pelos efeitos de maré, inspiradora dos amantes que convida a amar, dos sonhadores que dos olhos da lua não demovem pé

Poesia é a lua
anfitriã do homem, que o banqueteou com a mais sublime visão do planeta terra, a mais perfeita esfera, cheia de cor e semblante de ternura

Poesia é tudo isto e muito mais, que a minha mente não alcança jamais

 

Luís Paulo

 

domingo, 21 de outubro de 2012

Tonalidade etérea na Baía do Seixal


O céu plúmbeo,
Refletia nas águas o cinzento
Do outono  
Que se avizinhava

Águas escorreitas afluíam p`lo tejo em ondas mansas, cercadas de vida, tomando e invadindo de tonalidade etérea a baía do Seixal
Toalha liquida, espelhenta e cristalina, de ritmos constantes em serenas nuances
Azul profundo, por vezes

Outras, aniladas de azul celeste
Lavadas,

Ainda outras, tom de pérola, ou ardósia… exangues,
Carminadas

Anfiteatro de transparência e excelência pura, onde ninguém fica indiferente, nem o mais indigente, ao murmúrio cadenciado, ministrado pela enchente

Os esteiros acenam um dos mais harmoniosos e belos acontecimentos no curso do rio, onde num sulco mais profundo desemboca o rio judeu

Habitáculo transitório, onde as aves migratórias também elas vêm apreciar a mestria, o requinte diáfano do ambiente.

O flamingo,  
o alfaia,
o perna-longa,
a garça e o pato-bravo
ali, procuram abrigo e alimento,

Vêm todos os anos, num voo alegre, como dançando o ultimo andamento.
Van Gog,
Miguel Ângelo, ou
Leonardo Da Vinci,

Se vissem esta beleza
Render-se-iam vencidos
Ao maior Pintor da natureza 

Luís Paulo

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Não acredites meu amor


Vejo teu rosto preocupado.
O olhar ausente,
A tua boca de mel e sorriso suave
está triste

Sinto-te o corpo rígido, inscrito de incertezas
os braços estão pendentes, tens as mãos frias
Que tens?
Fala comigo meu amor
anda,
vem ver o mar,
observar a lua a refletir o manto sombrio
a clarear

Anda,
colocar nas estrelas as dúvidas que não param de te assaltar
anda,
vem,
pedir às ondas, sua sabedoria para te elucidar

E se não for suficiente,
se as tuas duvidas teimarem
meu amor
dá-me permissão para te afagar
consente que seja eu a elucidar.
Essas estórias vis que te contaram
de gente miserável e intratável
tem como objetivo nos separar

Lembras-te meu amor?
Que te chamava luz
que dizia que eras uma candeia a colorir no alto e que amanhecia a minha vida?

Lembras-te?
Que te dizia,
que havias endireitado a minha vereda, o meu caminho?

Lembras-te?
Em como todos os dias anuncio o meu amor por ti?
sinto o peito apertado,
o coração sufocado num ritmo acelerado
desanimado,
porque estas tuas suspeitas, está a dar cabo de mim,

Não acredites meu amor,
em boatos de mentes insalubres,
de gente supérflua e traidor
que tem inveja do nosso amor

Meu amor

 

Luís Paulo

 

 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Não sei se sou feliz


Naquele tempo a vida sorria-me,

Ia braço-dado com meu pai, numa analogia robusta, incansável, onde acolhia o carinho, os conselhos que me transmitiam a força necessária para os meus problemas costumeiros próprios da idade e da inexperiência que me atacavam e cingiam no dia-a-dia.

Ia braço-dado conjuntamente com meus amigos, amigos verdadeiros, num enlace espontâneo, sincero numa afeição transparente e pura, onde as recreações, os passatempos eram tão sadiamente só nossos

Viandávamos por uma estrada estreita, sem a opacidade e a licenciosidade que a maioria elegia e amava, que convertiam o amor em conduta desenfreada. Não! Os nossos caminhos eram outros caminhos, não que andássemos numa redoma de vidro, estivéssemos num pedestal ou usássemos uma auréola. Não! Éramos homens jovens como todos os outros, mas apenas mais sensatos, acatando as leis dos progenitores, as leis dos homens, para que não caíssemos na desonra e na vergonha de sermos violadores das regras sociais. Não! Os nossos caminhos eram mais escorreitos, harmoniosos, abertos, cristalinos e abastecidos de paz.

Nos sonhos? Áh! Nos sonhos voava livre, com a liberdade dos pássaros.

Lentamente deixava a estrada, as ruas barulhentas com a sua poluição e subia alto aos céus bem acima da terra e respirava a lucidez do ar, tocava as nuvens e observava como tudo era pequeno na terra. Os edifícios mais elevados eram apenas meros retângulos na vertical. Os montes mais grandiosos eram somente sulcos lavrados pelo trator do homem, ou esteiras produzidos pela água da chuva que corria em direção do mar. Liberdade essa concedida por acatar as regras elementares da sociedade, por reconhecer que só se é verdadeiramente livre quando acatamos a autoridade das lei e voava, voava livre, protegido pelas leis de meu pai e dos homens.

Hoje, sinto saudades daquele tempo e não sei se sou feliz. Assiste-me sérias dificuldades em definir a felicidade

Se a felicidade for medida por filósofos, que definem as emoções associadas á felicidade empregando a palavra prazer.

Aí pergunto: felicidade é viver intensamente um dia de cada vez? É a ausência de esperança e de objetivos? É a busca incansável de prazeres efémeros? É carência de amor, de paz e de liberdade?

Sim! Se a felicidade é tudo isso, sim sou feliz.

Mas, e se a felicidade for algo mais?

Se for baseado em estudos na psicologia em que investigadores desenvolveram diferentes métodos e instrumentos, a exemplo do Questionário da Felicidade de Oxford, para medir o nível de felicidade de um indivíduo. Esses métodos levam em conta fatores físicos e psicológicos, tais como envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade, idade, renda etc. aí a felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena.

Aí nesse caso pergunto:

Ser feliz é ter a esperança e acreditar num Deus superior a nós?

Sim, acredito!

É ter uma família sempre por perto?

É ter alguém á espera, quando chegamos a casa exaustos no fim de mais um dia de trabalho árduo?

É o acontecimento de ao jantar partilharmos em família as experiências do dia?

É o caso de ao deitar, ouvirmos aquela voz melíflua, suave, tão próprio das crianças, que nos alivia o coração, que nos lava a alma, que nos diz: Pai! Que corre para os nossos braços num chi-coração forte, apertado, que nos liberta de todo o cansaço, da ansiedade do dia, do medo do amanhã, que nos faz lutar?

Se a felicidade é isso, então não! Não sou feliz

Não sei se sou feliz. Senão sou, tenho saudades do ser…

 

Luís Paulo

 

 

sábado, 13 de outubro de 2012

Palavras retidas


Olho os teus olhos,
avassala-me o azul do teu olhar
fico preso, acorrentado 
e as palavras não saem
meu imo vacila… fica mudo,   
no teu encanto me desnudo

como imberbe inexperiente
Taciturno

E há tanto para dizer,

falar da chama que aguilhoaste em mim,
declamar… patentear o que senti
segredar no âmago em ti…   
quando te tive,
te possuí…

Na noite adiantada, 
enleados no luar á beira-mar
o areal, um lençol de cetim 
segredar,
o sentir-te arrepiar,
o rubor do teu rosto
os fluidos do teu corpo
o etéreo desejo
o aveludado das tuas palavras 
a ária do teu suspirar… 

Sim,
Amei-te…
como a noite ao luar   
mas as palavras não vão…
prisioneiras de ti,
ficam por ditar

 
Luís Paulo

 

 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Melancolia


A tarde ia avançada,

Envelhecia

O Sol,

Decidido que havia brindado o dia, deitava-se agora no crepúsculo, estreitando de laranja
o horizonte

Débil,

Desmaiado, acamava-se lentamente

Como tela dúplice numa beleza plangente 

Sentado,

Defronte á angra,

Alheado,  

Á maré crescente

Ali estava eu, desfalecido… vencido p`lo presente

Olhos marejados,

Vil sofrimento,

Nem a perfeição da paisagem me dava alento

Ergui o olhar,

O Sol cedia lugar á Lua,

Sedutora,

Vestida de luz

Aprontava-se ao espelho d´agua, refletindo sua beleza como vela a bruxulear

De ombros caídos,

Melancólico de saudades

Recordei lugares…

Etéreos Luares

A suave maresia,

O sulcado do teu respirar

O indizível do teu amar

A fragrância do teu corpo suado…

Então,

Abatido,

A cabeça sobre os joelhos cansados

Espreitei um ultimo olhar ao horizonte,

Também ele mostrava ser triste… sorriu para mim

Sorriso, que além de triste, vinha meigo… Com bonomia, numa autorizada empatia

Elevei um pouco mais os olhos, vi num traço da lua, uma pincelada tua…

Paixão despida, chama apagada…

Lágrimas sofridas, por tua alma caídas.

 

Luís Paulo

 

 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O palco



O banco do jardim é um palco de vida

Os atores?

Os atores são todos aqueles que nele se sentam, que se lamentam, que choram por dentro, lagrimas que não se vêm, num pranto silencioso, onde apenas os pássaros observam calados

O dia está limpo, aberto, o céu canicular, azul-marinho, límpido como águas cristalinas, apresentam a beleza do anil do mar, mas, os pássaros estão tristes, indiferentes ao azul etéreo, mergulham nos ramos amargos a espreitar, mais um drama vai começar

Todos os dias presenciam mais um abrir do pano,

Para alguns, as lagrimas não se seguram, os atores tombam num pranto sossegado, libertador, recuperador de dignidade

Os pássaros olham-se, também eles choram…

Um pergunta:

Porque sofrem os homens?

Porque não se respeita os idosos na sua fragilidade?

Porque existe tantas crianças pobres e a passar fome neste mundo desigual, nomeadamente em Portugal?

Os outros pássaros olham-no inquietos, com desconforto, também eles não compreendem e não sabem responder…

Apenas dizem: Coisas de humanos,

O ator, agora mais aliviado, mais leve, sem o peso das lagrimas que seca com as costas das próprias mãos, levanta-se, vai embora

Cai o pano.

Outro ator se senta,

Os pássaros vigiam

O espetáculo repete-se

Nesta bruma escura de incertezas

O povo já não ordena

 

Luís Paulo

 

 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Soltem as palavras

Libertam-se as palavras

Soltas,

Elas afluem simetricamente, despejando razoabilidade nos sentidos mais entorpecidos… nos sentidos mais enigmáticos e inconscientes dos que vivem realidades utópicas

Palavras essas arrastadas p`lo vento, aglomeradoras de multidões, sedentas de justiça, “já que a justiça tarda ou nunca sai”… desaguando numa estância de quietude, libertando desassossego, acordando indivíduos sépticos de ideias, que domiciliam a mediocridade

Palavras versadas de sapiência, moderadoras, soltas, que soltam raciocínios lógicos, mudando pensamentos retrógrados á muito estagnados e avançam lentas, sossegadas num sossego enganador, falso, porque avançam ininterruptamente, na brisa silenciosa das vozes dos irrequietos, dos que não se resignam, dos mudadores de ideias, dos que não se demitem de restabelecer a harmonia a paz, a ordem social e principalmente a justiça.

Soltem as palavras…

 

Luís Paulo

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A rosa


 

 

Tu és rosa,

És poema,

Poema, D`um poeta maior

Esboçada em alegria,

Tracejada com muito amor

És pétala colorida,

És vida que invade a minha vida,

És verbo de menina

És essência de mulher

És fragrância no teu âmago

És perfume que embriaga

És tudo o que um homem quer

Os montes

Os rios

Os vales

E até mesmo os mares

Prostram-se perante ti

Porque és rosa

Rosa,

Nascida p`ra mim

 

Luís Paulo