Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

sábado, 19 de julho de 2014

Amar em Silêncio


sábado, 5 de julho de 2014

O último dia


Está a completar um ano que partiste meu amor,
ainda hoje ouço a tua voz;

“Olha, que lindo, olha, como o céu é lindo de cor de laranja”.
Parecias uma criança a contemplar o pôr-do-sol.

Sorrias e apontavas o horizonte quando o sol se deitava e as sombras do crepúsculo tisnavam o azul do mar.

Faz um ano meu amor e é tanta a demora.
A tua ausência é um vazio cruel que me inquieta, como se o tempo fosse um algoz a fazer-se passar devagar.

Naquele dia jantávamos o fim de verão,
o teu último dia junto a mim.

A vida afastava-te.
Imigravas com um choro silencioso e um protelar de sonhos.

De repente ficaste triste,
o teu olhar era um olhar de quem tinha saído de um sonho que chegava ao fim.

Fechaste os olhos e inspiraste a maresia como se enchesses o peito de saudade.
A aragem poente arrepiou-te a pele e abraçaste-me o olhar.

Completa agora um ano meu amor,
Tanto tempo.

A tua falta cansa-me,
deixa-me num estado sem alma em que nada acontece como se a minha vida parasse.

Agora,  
que se aproxima o mês de todos os regressos, sei que vens dos céus como nas asas dum cupido de volta a mim.

Depois meu amor,
quando olhar os teus olhos e te apertar nos meu braços num abraço forte, não quero jantar apenas o início do verão,

quero dança-lo,
quero descansar em ti toda a noite esta saudade antes que se solte de novo o inverno frio da vida.

E não sei se te deixo partir de novo.

 
Luís Paulo

Imagem Web

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A outra Margem


Sorriso bonito a outra margem.
O pequeno arvoredo
espelha no azul rosa das águas
o verde oásis, como uma exígua ilha.

Ao longe,
o contorno esguio dos prédios
dançam a dança das garças
nas ondas mansas do rio.

Sentado,
na baía do Seixal,
sou um poema triste.

Lembro-me de ti meu amor,

e como este rio,
no sangue corre-me o amor e
no coração sai-me um grito de saudade

 

Luís Paulo
Imagem Web

 

domingo, 22 de junho de 2014

O fim da espera


 

Terminava finalmente a espera.
Passos lentos mas firmes ecoavam a aproximar-se.

Pararam.
“Hoje tem o direito a escolher o jantar, o que vai escolher?”

O homem olhou-o triste, olhar vazio, e assim ficou, sem nada dizer.
O outro, com ar grave, respeitava aquele silêncio, mas em vista da demora viu-se forçado a intervir.

“Tem de me dizer se já escolheu algo para o jantar.”

O homem pareceu despertar dum sono longínquo e disse de voz sumida.
“Desassossego”

“Desculpe?”

“Podia-me trazer o livro do Desassossego? De Bernardo Soares?”

“Se é esse o seu pedido posso claro, e para o jantar? Pode pedir o que quiser.”

“Basta-me o livro do Desassossego.”

“Mas tem de pedir algo para jantar. Tem de comer também”

Insistia o outro.

“Poesia.”
“Alimentar-me-ei de poesia.”

 

Luís Paulo

 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sou Poesia


Poderás dizer que já me esqueceste.

Poderás dizer até que o tempo junto a mim não foi o melhor, que querias mais, ir mais alto, viver o glamour.

Não me empreguei – disseste
Que poderia ter feito melhor. Que parecia um artesão do tempo a viajar nos espaços vagos da memória. Que era um amante da poesia e que gastava as horas a esboçar poemas.

Que cometia erros!  
Cometia erros?

Agora, ao ver o passado, não consigo evitar o escorregar de um sorriso. Um sorriso triste, com mágoa, talvez até com raiva e pena de mim mesmo por ter carregado tanto tempo a surdez do teu coração.

Sim, é verdade que cometi erros, afinal sou apenas eu, sem efúgios. Sem a conversa alternativa e abstrata que empregavas nos teus discursos enviesados.

E os poemas que te lia eram tímidos pedaços de mim. Era uma suave olência de amor que o meu coração te oferecia em forma lírica. Um buquê de rosas em jeito de palavras.
E o silêncio que emanava de ti era tão intenso, tão profundo, que era como se me desses a escolher entre o vazio e o nada.
Escolhi sempre o vazio, segurava a ténue esperança que com o tempo o pudesse encher com algum resto do teu amor.

Não sei se alguma vez o enchi, não me lembro, já passou tanto tempo. Também já não importa. Agora vejo tudo muito mais nítido. Hoje, a olhar o teu rosto esfumado na distância, vejo a simbiose perfeita da ignorância e da perfídia.

Sempre vivi á bolina dos teus ventos que me perturbava o equilíbrio, ventos hostis da insipiência, da mentira, da desculpa, como num mar morto onde nada vive.

Ao olhar para trás, vejo agora que era apenas um recluso em liberdade condicional. A minha vida era uma nota de rodapé. Um pequeno comentário, uma referência indigente.

E eu que cedia á docilidade do prazer de te ver passar. Achava agradável o sombreado da tua silhueta. Dava por mim a gostar do cheiro das ruas por onde passavas nesse teu jeito impessoal.

Mas este hiato do tempo revelou o torpor em que estava adormecido e anestesiado da tua voz mesclada e bipolar. O tempo, tão sensato, revelou-me que a vida é poesia, e quem não ouve poesia é um morto-vivo a resvalar nos preconceitos e maledicência.

Hoje sou poesia.

 

Luís Paulo

 

 

 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Um poema, uma vida


O som da manhã é o ecoar dos passos e as vozes fantasmas a rasgar os corredores frios e os corações agrilhoados. É o tinir metálico das chaves, é o “bum” do ferrolho que se abre, é o som insípido e espaçado das embocaduras
É o silêncio que se esvai.

Depois,
o cheiro mesclado que se mistura e se vai com a água suja e ensaboada, depois as lágrimas, a violação dos sonhos, a morte do corpo.

E os precitos em terror desejam que a noite não cesse.
Ao invés dos gritos fantasmagóricos do dia, querem o pensamento a cirandar naquele espaço confinado e escuro. Só ali podem fingir que existem, que a vida também lhes pertence, e encobertos do mundo sorriem um sonho em que são livres das promessas e do medo.

Antes a dormência da escuridão.
Antes o som do silêncio e o vazio da vida em que nada acontece, do que aquele amanhecer nubloso de mais um dia de angústia e de dor.

Dor sem dor, porque ali a dor não dói.

Lugar habilmente escondido do sol, onde as palavras não vivem e as cores não se soltam. Que evapora a vida. Gládio que fere e se oculta das estrelas distantes e ignotas.

E os anátemas esquecidos pedem a Deus que baralhe a vida e dê de novo.

Um renome.
Qualquer coisa que apague o passado. Um interlúdio do dia que os livre do sobressalto e da culpa déspota.

Um gesto, mesmo insignificante que seja, um sorriso, um perdão, um poema dum poeta que se inspira e se revela.

Um poema,
Uma vida,

Dêem-lhes um poema,

Dêem-lhes um poema e uma vida.

 

Luís Paulo
 

sábado, 17 de maio de 2014

Dias demorados


Todos os dias vou á rua com a minha Lady.
Nas manhãs mais vagarosas, meto por um pequeno arvoredo que cinge o meu pequeno bairro.
Ali, vem-me o cheiro dos pinheiros, o chilrear dos pássaros, o harmonioso e belo canto dos rouxinóis e isto enche-me a alma.

Não tenho a culpa.
Fico assim…

Mas mesmo que tivesse, não podia fazer nada.
A alma quer, o coração exige, a mente aprecia.

Há uns dias atrás, as andorinhas queriam ir embora por motivo de falsa primavera.
Hoje estão aí, quentes como os dias.

 

Luís Paulo

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ausências


A noite estava fria,
o equador já sem vida,
O rosmaninho revolto na paliçada concedia um véu translucido de traços suaves na noite
no alpendre o teu espaldar não tinha ninguém,
deserto ártico,
escuridão
no rosto tatuado a desilusão
A noite avançada,
o vento norte,
horas tardias,
a mente em convulsões transgénicas,
a morte, a vida,
A desordem, o caos, o sonho!

E tu,
eras um perfume ténue que se desvanecia  no tempo
no teu espaldar vazio, esquecias as núpcias da tua mocidade
elegias a utopia, a escusa
as vozes, os murmúrios, os suores,
as janelas embaciadas
a vida, a tua vida
era,
solenidades noturnas

 
Luís Paulo
Pintura_Quando rompe a manhã_Richard Johnson

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Amar em Silêncio


… Sentei-me a descansar um pouco onde nos sentávamos meu amor,
Sim, eu sei que prometi não voltar,
mas o dia estava tão lindo, o sol brilhava, e há tanto tempo que não saía de casa.

Construí um pequeno passeio a caminhar um pouco.
Depois…
depois, ouço meus passos ecoar no silêncio frio do meu coração e lembro-me que foste o meu caminho…

Desculpa meu amor,
mas sem ti não sei que fazer,
para onde ir,

Assim,
sento-me aqui e escrevo,
Não!
Escrevo apenas palavras que vagueiam soltas e que o meu coração já não consegue segurar,
Escrevo os teus gestos,
as palavras que revelavas, tão doces que me adormecia a noite
o teu amor, que me fazia esquecer o medo
além disso meu amor,
é aqui sentado que me sinto mais perto de ti,
olho o passado,
vejo as tardes onde passeávamos de mãos dadas, a tua voz, tão clara, tão meiga, o teu sorriso desafogado que abraçava o mundo

Ah! Se pudesse emoldurar o tempo!
O tempo em que eras a minha estrofe,
meu oboé de Chopin
Ah! Se pudesse,
pendurava aquele tempo no meu quarto e tinha-te todas as manhãs!

Estou a ficar velho meu amor.
E agora…
que me importa o tempo que me sobra?!
Tu eras o hífen que me juntava á vida,
vida que ainda me autorizava sonhar, e que agora é um fardo que carrego sem esperança.

Há esperança na morte?
Por vezes dou por mim a invejar quem morre,
 Hoje, a minha esperança é que a usura do tempo seja veloz e me leve até ti!

 “Prometes que vais ser feliz?” Dizias
Prometi que sim, nunca te negava nada.
Menti!
não consigo aguentar mais a promessa,
não consigo ser feliz sem ti, meu amor…
não consigo amar-te mais tempo em silêncio,
não consigo morrer meu amor!

 
Luís Paulo