Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E a seguir ás noites?


A seguir às noites,

Vêm sempre misteriosas madrugadas.

Desperto,

Olho o teto, teto falso, em madeira, pareceu-me de mogno pela sua textura castanho-avermelhado. Não reconheci aquela cobertura, nunca havia estado num quarto de teto semelhante. Senti-me confuso, tinha a certeza de ter acordado mas parecia que vivia um sonho, uma irrealidade. Surpreendido, olho em volta, as paredes brancas, imaculadas, com alguns quadros dispostos por elas, quadros que não recordo que nunca vi e que aumenta a minha perplexidade. A minha surpresa cede lugar a sobressalto, sinto-me desassossegado, não percebo onde estou, não conheço este local, a expressão destes aposentos, esta casa é-me totalmente abstrata, metafisica, apalpo uma sensação de desconhecido fora do real.

 Na mesa-de-cabeceira, avistei um radiodespertador que marcava dez horas e vinte minutos, no chão, descubro uma jarra de vidro partida em vários fragmentos, várias rosas vermelhas encontram-se espalhadas pelo quarto.

Amplio o desconforto, “que aconteceu aqui, a jarra caiu, ou alguém a partiu propositado com estrondo no chão motivado por alguma discussão?”

Estou deitado, nu, o lençol de cetim carmesim tapa-me até á cintura, ao meu lado o lençol esboça uma silhueta, esbelta, curvilínea, escultural, os cabelos desalinhados escondem metade do rosto estético e seguem tombando sobre uns peitos firmes, redondos, de pele aveludada

Ergo -me ligeiramente, socorro o corpo cansado e perplexo com o cotovelo direito e observo esta mulher sublime mas misteriosa. Encontro-me num lugar desconhecido deitado com uma mulher estranha.

Após um breve período a observar, serenei da minha apreensão, confesso que atraído pela visão matinal, o momento não oferecia perigo, antes pelo contrário, eras tranquilidade, paz, o encanto, a serenidade, a pacificidade, o silêncio em que respiravas, apenas o agradável compasso do teu peito mostrava que dormias, que vivias.

Abriste os olhos, um verde-marinho que me agarrou, me pregou ainda mais ao leito, talvez te sentisses espiada no subconsciente e acordaste, não sei, mas sorriste para mim, notaste o meu olhar de espanto, de interrogação e inquiriste: Que se passa, porque me olhas assim?

Apeteceu-me dizer que era a tua beleza que me queimava, que me abrasava, que eras a mulher mais linda que já havia visto. Mas não, num mar de incertezas, mas nos ombros o peso das certezas, apenas perguntei: quem és? Onde estou?

O teu sorriso delicado, encantador, aos poucos esvaeceu, ficaste com ar sério, os olhos apresentavam aquele temporal que acontece subitamente no mar, ficaste triste, sentiste-te infeliz. -Não te lembras?- Perguntaste. Como me mantive calado, continuaste. – Não te lembras de ontem, que passámos o dia juntos? Conhecemo-nos na Fonte da Telha, conversámos toda a tarde, fomos nadar juntos e acabámos por jantar numa esplanada á beira-mar? Depois fomos a um bar, ouvimos música ao vivo, não te lembras? Bem que eu disse para não beberes tanto, mas tu continuavas, falaste que estavas a atravessar um mau momento e bebias…

A minha mente começou a clarear, pausadamente, até que aos poucos conquistei a memória e lembrei de tudo.

Estavas deitada na toalha a ler um livro, protegida pelo guarda-sol quando cheguei, vi-te, fiquei ali, lembro que pensei que eras a coisa mais linda de toda a praia e até mesmo do mar.

Não vias ninguém, estavas no teu mundo, ou no mundo da história do autor, era uma história de amor e eu olhava para ti, sem sentir cansaço, por vezes embaraçado, com medo de te embaraçar, mas tu não reparavas, ou fingias não reparar, não sei…

Até que surgiu uma oportunidade que aproveitei. Uma bola de uns indivíduos que jogavam perto do areal, apanhou-te. Recordo que o teu corpo, o teu desejável corpo e o livro que lias ficaram sujos de areia, mostraste-te desagradada, falaste que deviam jogar mais longe, fui em tua ajuda e a partir daí ficámos a conversar sobre diversos assuntos. Do romance que estavas a ler, “Segredo de uma Promessa” de Danielle Steel, falámos de várias rubricas, diferentes temas, terminámos a falar de poemas, convidei-te para jantar… Foi assim… agora recordo perfeitamente.

Sinto-me miseravelmente envergonhado, pergunto atabalhoadamente se tivemos algo durante a noite, falaste que sim, que tinha sido muito agradável. Não resisti, toda a minha inquietação cedeu lugar á confiança e á alegria e amei-te com deleite mesmo ali…

 

Luís Paulo

 

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