
A seguir às noites,
Vêm sempre misteriosas
madrugadas.
Desperto,
Olho o teto, teto falso,
em madeira, pareceu-me de mogno pela sua textura castanho-avermelhado. Não
reconheci aquela cobertura, nunca havia estado num quarto de teto semelhante.
Senti-me confuso, tinha a certeza de ter acordado mas parecia que vivia um
sonho, uma irrealidade. Surpreendido, olho em volta, as paredes brancas,
imaculadas, com alguns quadros dispostos por elas, quadros que não recordo que
nunca vi e que aumenta a minha perplexidade. A minha surpresa cede lugar a
sobressalto, sinto-me desassossegado, não percebo onde estou, não conheço este
local, a expressão destes aposentos, esta casa é-me totalmente abstrata,
metafisica, apalpo uma sensação de desconhecido fora do real.
Na mesa-de-cabeceira, avistei um
radiodespertador que marcava dez horas e vinte minutos, no chão, descubro uma
jarra de vidro partida em vários fragmentos, várias rosas vermelhas
encontram-se espalhadas pelo quarto.
Amplio o desconforto,
“que aconteceu aqui, a jarra caiu, ou alguém a partiu propositado com estrondo
no chão motivado por alguma discussão?”
Estou deitado, nu, o
lençol de cetim carmesim tapa-me até á cintura, ao meu lado o lençol esboça uma
silhueta, esbelta, curvilínea, escultural, os cabelos desalinhados escondem
metade do rosto estético e seguem tombando sobre uns peitos firmes, redondos,
de pele aveludada
Ergo -me ligeiramente, socorro
o corpo cansado e perplexo com o cotovelo direito e observo esta mulher sublime
mas misteriosa. Encontro-me num lugar desconhecido deitado com uma mulher
estranha.
Após um breve período a
observar, serenei da minha apreensão, confesso que atraído pela visão matinal, o
momento não oferecia perigo, antes pelo contrário, eras tranquilidade, paz, o
encanto, a serenidade, a pacificidade, o silêncio em que respiravas, apenas o agradável
compasso do teu peito mostrava que dormias, que vivias.
Abriste os olhos, um
verde-marinho que me agarrou, me pregou ainda mais ao leito, talvez te
sentisses espiada no subconsciente e acordaste, não sei, mas sorriste para mim,
notaste o meu olhar de espanto, de interrogação e inquiriste: Que se passa,
porque me olhas assim?
Apeteceu-me dizer que
era a tua beleza que me queimava, que me abrasava, que eras a mulher mais linda
que já havia visto. Mas não, num mar de incertezas, mas nos ombros o peso das
certezas, apenas perguntei: quem és? Onde estou?
O teu sorriso delicado,
encantador, aos poucos esvaeceu, ficaste com ar sério, os olhos apresentavam
aquele temporal que acontece subitamente no mar, ficaste triste, sentiste-te
infeliz. -Não te lembras?- Perguntaste. Como me mantive calado, continuaste. –
Não te lembras de ontem, que passámos o dia juntos? Conhecemo-nos na Fonte da
Telha, conversámos toda a tarde, fomos nadar juntos e acabámos por jantar numa
esplanada á beira-mar? Depois fomos a um bar, ouvimos música ao vivo, não te
lembras? Bem que eu disse para não beberes tanto, mas tu continuavas, falaste
que estavas a atravessar um mau momento e bebias…
A minha mente começou a
clarear, pausadamente, até que aos poucos conquistei a memória e lembrei de
tudo.
Estavas deitada na
toalha a ler um livro, protegida pelo guarda-sol quando cheguei, vi-te, fiquei
ali, lembro que pensei que eras a coisa mais linda de toda a praia e até mesmo
do mar.
Não vias ninguém, estavas
no teu mundo, ou no mundo da história do autor, era uma história de amor e eu
olhava para ti, sem sentir cansaço, por vezes embaraçado, com medo de te
embaraçar, mas tu não reparavas, ou fingias não reparar, não sei…
Até que surgiu uma
oportunidade que aproveitei. Uma bola de uns indivíduos que jogavam perto do
areal, apanhou-te. Recordo que o teu corpo, o teu desejável corpo e o livro que
lias ficaram sujos de areia, mostraste-te desagradada, falaste que deviam jogar
mais longe, fui em tua ajuda e a partir daí ficámos a conversar sobre diversos
assuntos. Do romance que estavas a ler, “Segredo de uma Promessa” de Danielle
Steel, falámos de várias rubricas, diferentes temas, terminámos a falar de poemas,
convidei-te para jantar… Foi assim… agora recordo perfeitamente.
Sinto-me miseravelmente
envergonhado, pergunto atabalhoadamente se tivemos algo durante a noite,
falaste que sim, que tinha sido muito agradável. Não resisti, toda a minha
inquietação cedeu lugar á confiança e á alegria e amei-te com deleite mesmo
ali…
Luís Paulo