Entardecia,
Olhavas-me de sorriso aberto… exausta, suada, o corpo
nu espalhado na cama, de peito ofegante, viraste-te de costas a espreitar a
rua. A noite principiava a acontecer… o tempo junto a ti, fugia depressa,
falecia veloz… como sempre, tinhas que partir. Eu sabia… todas as tardes era
assim, voltavas para casa, para os teus… os teus olhos, agora tristes, pediam
um último beijo…
Enleei-te nos meus braços, beijei-te devagar, a
saborear-te, a usufruir o momento… os nossos gestos foram ganhando formas,
ritmos, e amei-te uma vez mais, quase á pressa, a aproveitar o tempo que
restava, como se fosse a ultima vez,
Das nossas gargantas, escapavam gemidos roucos,
incongruências lascivas, palavras absurdas, sem nexo. Os corpos em incandescência
ingressaram em combustão, e terminámos em espasmos cadenciados, num êxtase
profundo. O teu coração batia desordenado, tinhas a respiração arquejante,
irregular… agarraste-te a mim a chorar.
Senti que havia chegado o momento… afinal, ambos sabíamos
que iria suceder, pertencias a outro, “vou amar-te sempre, juro, mas não posso
mais voltar aqui, não me perguntes porquê, agora não, por favor, não me faças
perguntas, já me é tão difícil.”
O meu coração quase que parou, tinha passado quase
três anos, tantas tardes juntos, tantas… como esta, de amor intenso… havia
aprendido a amar-te, dava por mim a esperar aquela hora, a hora que surgias,
avistava-te ainda longe… nunca irei esquecer o teu porte, a graciosidade do
passo, os teus cabelos ao vento… sabia que iria sentir muito a tua falta, a tua
ausência iria magoar, tinha consciência, que na inconsciência dos dias voltava
para te esperar, e, saber que não vinhas, que não aparecias, dilacerava,
despedaçava o meu coração já ele frágil. Imaginar-te nos braços de outro…
embora eu fosse o outro, era atroz, cruel. Não chorei, fiz-me forte, não disse
nada, o nó na garganta não autorizava.
Pediste-me que se te visse na rua, acompanhada… para
não te falar. “Prometes? Finges que não me conheces? Não tomes a iniciativa,
prometes? Se achar ser possível falarei eu, sim?”
Tentavas minimizar a despedida, o adeus… mas ambos
sabíamos que o adeus era definitivo… senti que tremia, não queria que me visses
chorar, engoli as lagrimas… a chorar por dentro, no meu íntimo, sem forças para
falar, acenei a cabeça, prometi em concordar
Luís Paulo
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