Foda-se!
Desculpem
as almas mais sensíveis esta minha linguagem mais vernácula e
deselegante.
Mas
não me aparece outro adjetivo.
Sei
que poderia, talvez, fazer um esforço e suavizar a palavra, ou a
ideia. Substitui-la, inclusive, por outra mais agradável, mais
polida. Adotar, quiçá, a arte de bem dizer…,
Poderia
se simpatizasse com eufemismos.
Mas
não simpatizo almas mais sensíveis.
Sonhar
que morri?
Foda-se!
Imaginam
o que é sentir o frio escuro e mofo da cova a abocanhar-nos o corpo
inerte?
Conseguem
sentir a asfixia daquele local confinado e sombrio?
Sabem
o que é estar naquele silêncio imposto e húmido e ouvir cair uns
punhados de terra a despedirem-nos da vida?
Conseguem
sentir a falta da lucidez e do espaço?
Conseguem
escutar a entropia?
Conseguem?
O
glu, glu, borbulhante e viscoso da carne a derreter-se e o corpo a
escorregar liquido-feito a afogar a nossa própria morte?
Ah,
agora já dizem foda-se?
Será
que não poderiam adocicar a palavra? Ao invés de dizer foda-se,
dizer, puxa? Palavra muito mais agradável, muito mais chique.
Que
se foda o léxico.
Apagarem-me
a vida como se apagassem um erro?
Foda-se!
A
mim não me apetece ser meigo nem doce com a morte.
Não
encontro formas líricas nem poéticas para a morte.
Tenho
aprendido com os poetas que a poesia é vida.
A
morte é uma merda.
Não
gera nada. Ou melhor, gera, até de mais.
É
fecunda.
Envolve-se
naquela fecundidade morta e gera morte e mais morte.
Porquê
perder tempo com frivolidades e deixar os poetas e os poemas na cova
do anonimado?
Que
renasçam os poemas!
Como
poderei falar de poemas, de poesia, se a verdadeira poesia, a pura,
morre esquecida?
Tirem-me
deste sonho. Preciso sair deste sonho.
Indemne.
Exijo
uma catarse linear que me inocente da morte desses poetas.
Preciso
de uma bênção.
Que
um filho da puta qualquer me abençoe.
Que
os poetas sejam poemas e a poesia uma acha de vida.
Que
merda de força tem a morte para separar os poetas da poesia?
Não
quero morrer…,
Exijo
vida à vida. Exijo vida à poesia e aos poemas dos poetas que falam
do amor inumano e desaparecido…,
Não
quero poesias póstumas.
Poesia
póstuma é poesia triste…, e não gosto de poemas tristes.
Pior
ainda quando a poesia triste é triste para sempre.
Como
quando se morre, morre-se para sempre.
Morrer
para sempre…,
Tantos
cientistas almas sensíveis, tantos…,
tantos
estudos e dizem-me que tenho de morrer?
Quem
pensam estes gajos que são para me dizerem que tenho de morrer para
sempre?
Fodam-se
os cientistas.
Vivam
os poetas.
A
Geografia do amor
Viva
a epifania dos por dos sois.
Não
quero morrer almas sensíveis…,
Mas…,
se
morrer…,
se
por qualquer razão aparecer morto,
para
sempre…,
saibam
que não fui eu.
Foi
a morte que me Matou.
E
logo agora que as folhas iniciavam a ganhar cor.
Luís
Paulo