Principiava as primeiras
horas do dia, daquele mês de maio,
As andorinhas
madrugadoras, adejavam já num bailado ao tom do aroma primaveril,
Aparecias com passo
pouco firme, como de uma criança, cingida de inocência… de inculpabilidade…
Mas, um brilho de
aventura nos olhos denunciava essa aparência, essa aragem inócua
Penetravas na alcova, e
esse mundo impoluto, de candura, de castidade, de lisura tombou. Caiu quando te
entregaste abrasada, embriagada de paixão, num amor intenso. Amavas num
compasso enérgico, quase violento, num ritmo entusiástico como um faminto á
procura de alimento.
Gostavas de viver no
limite, a maior parte do tempo no inverso da verdade.
Os poros do teu corpo
transpiravam falsidade para com o teu mais próximo, a quem devias lealdade e na
cama deitada com a cabeça no peito dos teus amantes, praticavas o teu sorriso
tímido, impoluto e dizias ao telemóvel com aquela voz frágil que estavas a
trabalhar, “não esperes por mim que vai durar até alto da noite”- mentias… “vou
passar o dia com uma amiga”
… Um, falou-te do
incómodo que era para ele ouvir essas falsidades, que devias atender o
telemóvel e falar noutro local e a sós. Dizia-te que as tuas palavras eram
punhais cravados nas costas de quem em ti confiava, porque as anunciavas á
frente de um terceiro. Revelou inclusivamente que iria ter dificuldades em confiar
em ti, sentiu vergonha de si e do que fazia e das tuas mentiras sem fim. Mas tu
rias-te, - “que disparate” – dizias. Mas nunca mais confiou em ti e nunca mais
te quis ali.
Há quem recorde
francamente aquele dia que te viu na praia. Semblante carregado, indiferente ao
mar, às crianças que chapinhavam na água, ao sol que tão generosamente brindava
todos os veraneantes, até o cheiro delicado do mar, a maresia, parecia ser-te
detestável. Não fizeste um esforço, não te mostraste agradável ao teu mais
intimo, ar carrancudo, pesado, que indiciava bem o que te ia na mente,
pensamentos espúrios, como águas que correm para um mar de pecados, noites
voluptuosas na cama com os amantes
Nessa tua imagem distante, desligada, ficou bem
patente, ficou bem assente, que sonhavas apenas com amantes e no prazer
prepotente, mas eras apenas uma mulher amarga, infeliz e com amor ausente…
Luís Paulo