O
som da manhã é o ecoar dos passos e as vozes fantasmas a rasgar os corredores
frios e os corações agrilhoados. É o tinir metálico das chaves, é o “bum” do
ferrolho que se abre, é o som insípido e espaçado das embocaduras
É
o silêncio que se esvai.
Depois,
o
cheiro mesclado que se mistura e se vai com a água suja e ensaboada, depois as
lágrimas, a violação dos sonhos, a morte do corpo.
E
os precitos em terror desejam que a noite não cesse.
Ao
invés dos gritos fantasmagóricos do dia, querem o pensamento a cirandar naquele
espaço confinado e escuro. Só ali podem fingir que existem, que a vida também
lhes pertence, e encobertos do mundo sorriem um sonho em que são livres das
promessas e do medo.
Antes
a dormência da escuridão.
Antes
o som do silêncio e o vazio da vida em que nada acontece, do que aquele
amanhecer nubloso de mais um dia de angústia e de dor.
Dor
sem dor, porque ali a dor não dói.
Lugar
habilmente escondido do sol, onde as palavras não vivem e as cores não se
soltam. Que evapora a vida. Gládio que fere e se oculta das estrelas distantes
e ignotas.
E
os anátemas esquecidos pedem a Deus que baralhe a vida e dê de novo.
Um
renome.
Qualquer
coisa que apague o passado. Um interlúdio do dia que os livre do sobressalto e
da culpa déspota.
Um
gesto, mesmo insignificante que seja, um sorriso, um perdão, um poema dum poeta
que se inspira e se revela.
Um
poema,
Uma
vida,Dêem-lhes um poema,
Dêem-lhes um poema e uma vida.
Luís
Paulo