Ontem vi-te,
Passeavas de mão dada. Conversavas jovial… rias…
gesticulavas,
A vida sorria-te.
Fiquei feliz, por te ver feliz,
Lembrei-me de como te vi á uns anos… lacrimosa… a
dizer que me amavas, que querias voltar para mim, que havia sido um engano teres-me
deixado, que havia sido asneira teres-te distanciado… perdoa-me, imploravas num
choro coercivo… perdoa a minha insensatez, a minha leviandade, insistias…
repara como a minha vida acontece agora em andamentos débeis?! Sinto o meu
caminho tão incerto, ínvio… possuo medo do amanhã.
Não pude deixar de sorrir,
Havia dez anos que não te via. É certo que tremi,
quando olhei os teus olhos… estavas mais adiposa… no rosto trazias o tempo que
passou… mas os olhos, os olhos eram os mesmos de á dez anos atrás… verde-esmeralda,
quando feliz… cor de mel, quando inquieta e receosa.
Falei-te que não era assim… não se aparece ao fim de
tantos anos como se nada tivesse acontecido.
Aconteceu!
Da mulher que partiu, apenas voltaram os olhos… Disse-te
como senti a tua falta, de como fui despejado de ti, esvaziado da tua voz, do
teu sorriso, do teu calor… o vazio… nada, não existia nada.
Senti o peito dilacerado pelas saudades, as lágrimas
que soltei nas noites que não dormi, era no pouco que dormia que te sentia
perto a mim, e depois, o amanhecer sombrio da realidade, a dor da tua ausência.
O vazio… esse, ficava mais vazio.
Foi tão difícil viver assim, dava por mim, á procura
do teu rosto no meio das multidões. Durante todo este tempo a dor no meu
coração permaneceu em silêncio. Sim, foi tão difícil… ouvia a tua voz na mudez do
meu quarto.
E agora, aparecias assim?! Do nada? Não! Não eras mais
a mulher de outrora, a mulher a quem me entreguei, por quem me aprisionei… A
quem amei… sim, amei num amor profundo e intenso. Tudo isto te falei, que
voltavas uma mulher estranha, que de ti, apenas retinha vagas lembranças,
escassas memórias que ecoavam longe. Falei-te do virar do crepúsculo, no
amanhecer envolto num outro amor, do tempo que privilegia quem não desiste, de quem
luta mesmo contra as próprias lágrimas. Luta por ti e pela tua vida, disse. Despedi-me
de ti, e fui embora, sem olhar para trás.
Luís Paulo