A manhã estava sossegada, o céu limpo. Aqui e ali via-se uns riscos de nuvens, mas o sol brilhava, aliviando o frio seco da noite. Decidi tomar a minha porção diária de vitamina D, e sentei-me no banco de pedra na margem da baía. Dois idosos, no banco ao lado conversavam entre si. Um de fato e gravata muito gasto. O outro de boné e samarra alentejana. Dizia o de samarra alentejana, de voz amarga e dorida: “A Isabel farmacêutica, disse-me á pouco que já não me pode fiar mais porque já devo trezentos euros.” O de fato gasto indignado: “Mas precisas dos medicamentos para a tensão!” - “Pois preciso” - consentia o de samarra alentejana de olhos brilhantes. - “Mas este mês não vou poder tomar, a reforma já se esgotou.” O idoso de fato gasto fez um silêncio meditativo, esfregava as mãos nervosas e disse metendo a mão ao bolso: “Toma cinquenta euros, vais comprar os medicamentos. “Não posso aceitar, - dizia o de samarra. - Sei que te vai fazer falta, ainda agora o mês começou...” “Toma, - insistiu o de fato gasto. - “eu posso passar um mês sem carne, tu não podes passar um mês sem os medicamentos.” O de samarra alentejana sabia que era verdade, aceitou balbuciando emocionado algo que não consegui entender. Vi o homem a afastar-se a ir á farmácia, e vi nos ombros dele, toda a ignorância e toda a indiferença da humanidade. Voltei a olhar para o rio, e apeteceu-me deixar-me levar pelas águas mansas da baía. Luís Paulo
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
Águas do meu rio
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