A noite tocava a hora do pousio.
As searas dormiam… enroscadas… ora viravam para a direita,
ora para esquerda, conforme a brisa lhes dizia.
Os ulmeiros, lá no alto, pareciam dançar ao som do
coaxar das rãs, que numa fraga, pareciam namorar ao luar, num riacho que
passava ali perto…
Percorri-te a distância de um olhar… as searas,
continuavam para lá de ti, pareciam sorrir na maciez do toque, no manso e
delicado roçar de corpos, no enlace apaixonado em que se aqueciam… ou talvez,
apenas sorrissem o descanso, da espera de um novo dia.
O luar, profanamente ténue, apático, avivava indiferente
a capa insípida do teu olhar. Elegias as sombras, olhavas furtiva… àqueles…
cujos olhos te fitavam ébrios de desejo, teatralizavas mais os gestos, provocavas
mais o andamento do passo, adocicavas as formas, os sinais, e mostravas a nume
que existia em ti. O luar ganhava vida, e até mesmo o poente, parecia virar-se
no inverso para te observar.
Querias ser as tardes de domingo, o destino do périplo
dos sem destino, ocupar o pensamento vazio, querias viver, amar, adormecer,
acordar, no empíreo, no profano, querias ser Deus, o diabo, a bênção, o pecado.
Querias morrer, ressuscitar, querias ser todos, a todos te dar, querias ser os
rios e no mar desaguar, querias repartir, ser mil, em todo o lado querias
estar…
E saías vagueando, pelas sombras do luar…
Luís Paulo