Há dias assim,
Amanhecemos tristes, amargurados,
sem base aparente, procuramos um motivo, o porquê de tal acordar, qual a razão
que originou esta mágoa, esta dor interior, esta tristeza sem fundamento e não
encontramos.
Eram onze horas e
quarenta e cinco minutos, havia algum tempo que me tinha levantado e estava
nestes preparos, triste, desgraçadamente triste, parecia que o mundo ruía sobre
mim.
Chovia lá fora. Aliás,
foi uma constante durante a noite e continuava, ininterrupta, de facto um dia
emblemático de outono. Abri a porta da varanda, fui agradavelmente agraciado por
uma aragem fresca, lavada. Um aroma a terra molhada e uma fragrância a
eucalipto e pinheiros, trazidos pela brisa suave que acorria, reconfortou-me os
pulmões necessitados. A relva estava mais verde, saciada da irrigação constante.
As folhas já gastas, sem vida, caiam das árvores, devagar, oscilando para
direita e para a esquerda, pairando, até se firmarem no chão, terminando assim
o ciclo.
Era um dia, daqueles dias agradáveis de se
ficar em casa a ver chover. Um dia lindo de outono! Sim, o outono também é uma
quadra linda. Chovia, mas eu estava em casa, de robe, quentinho, nada me
faltava, ou pensava que não, porque aquela tristeza ditava o oposto. A
melancolia prescrevia outra razão.
Ouvia Sarah Brightman,
“Eden,” que música agradável, suave, olhava para a rua, ali estava outro éden,
mas agora literal. Tinha todos os motivos para estar feliz. Pensei inclusive
nas pessoas carentes, que nada têm e ainda assim transportam no semblante um
sorriso… triste é verdade, mas um sorriso. Então porque estava eu naquela
angústia?
Francamente não sabia e para
surpresa, experimento involuntariamente nos olhos um ardor lacrimal a sal,
lagrimas isoladas que teimam aparecer, não caem, não rolam, ficam ali, teimosas,
e que me fazem ver, um mundo alagado de ausência e de dor, que há muito tento
esquecer.
A memória leva-me em
viagem a acontecimentos longínquos, afastados, quase que esfumados pela
distância, mas culpados desta minha estância. Mas a ti, é curioso, a ti vejo-te
claramente, tão nítida, como se o tempo não passasse, é como se o sol parasse,
tal é a retidão da memória, que me incorpora uma sensação de contínuo vazio, de
que algo ficou por dizer, por ditar, daquela que foi a nossa história.
Já completava tanto
tempo que não pensava em ti, segui a vida amanhada para mim, esqueci, e vivi, umas
vezes bem, outra talvez, não sei. Mas há dias, como hoje, que dou por mim,
assim, numa dicotomia, mente coração. O passado, fortemente entrincheirado, que
disputa o presente, que vence, e me deixa destroçado. O coração! quererá ele ver-me
derrotado? Ou será isto amor camuflado que mantenho reservado? A mente dita o
contrário, quer ver-me animado, mas neste duelo desigual, o coração traiçoeiro
deixa-me desolado
Por isso o meu despertar
sem jeito…
Sem graça… sem a alegria
no caminhar,
É saudade daquele tempo,
É saudade de te amar
Sinto-me o que me resto,
do pouco que tenho quero desistir
Sem ti, meu doce ignoto poema…
Óh! minha melíflua poesia,
Sem ti, sofro derrotado,
a saída é partir
Áh! Mundo sovina de
amor, farto em desafeto, empanturrado de dor
Até quando tenho de
esperar este luto passar?
Até quando viver este
mundo de horror?
Apenas mais um pouco que
o tempo é curador e tudo vai normalizar.
Luís Paulo