Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sou Poesia


Poderás dizer que já me esqueceste.

Poderás dizer até que o tempo junto a mim não foi o melhor, que querias mais, ir mais alto, viver o glamour.

Não me empreguei – disseste
Que poderia ter feito melhor. Que parecia um artesão do tempo a viajar nos espaços vagos da memória. Que era um amante da poesia e que gastava as horas a esboçar poemas.

Que cometia erros!  
Cometia erros?

Agora, ao ver o passado, não consigo evitar o escorregar de um sorriso. Um sorriso triste, com mágoa, talvez até com raiva e pena de mim mesmo por ter carregado tanto tempo a surdez do teu coração.

Sim, é verdade que cometi erros, afinal sou apenas eu, sem efúgios. Sem a conversa alternativa e abstrata que empregavas nos teus discursos enviesados.

E os poemas que te lia eram tímidos pedaços de mim. Era uma suave olência de amor que o meu coração te oferecia em forma lírica. Um buquê de rosas em jeito de palavras.
E o silêncio que emanava de ti era tão intenso, tão profundo, que era como se me desses a escolher entre o vazio e o nada.
Escolhi sempre o vazio, segurava a ténue esperança que com o tempo o pudesse encher com algum resto do teu amor.

Não sei se alguma vez o enchi, não me lembro, já passou tanto tempo. Também já não importa. Agora vejo tudo muito mais nítido. Hoje, a olhar o teu rosto esfumado na distância, vejo a simbiose perfeita da ignorância e da perfídia.

Sempre vivi á bolina dos teus ventos que me perturbava o equilíbrio, ventos hostis da insipiência, da mentira, da desculpa, como num mar morto onde nada vive.

Ao olhar para trás, vejo agora que era apenas um recluso em liberdade condicional. A minha vida era uma nota de rodapé. Um pequeno comentário, uma referência indigente.

E eu que cedia á docilidade do prazer de te ver passar. Achava agradável o sombreado da tua silhueta. Dava por mim a gostar do cheiro das ruas por onde passavas nesse teu jeito impessoal.

Mas este hiato do tempo revelou o torpor em que estava adormecido e anestesiado da tua voz mesclada e bipolar. O tempo, tão sensato, revelou-me que a vida é poesia, e quem não ouve poesia é um morto-vivo a resvalar nos preconceitos e maledicência.

Hoje sou poesia.

 

Luís Paulo