Poderás
dizer que já me esqueceste.
Poderás
dizer até que o tempo junto a mim não foi o melhor, que querias mais, ir mais
alto, viver o glamour.
Não
me empreguei – disseste
Que
poderia ter feito melhor. Que parecia um artesão do tempo a viajar nos espaços
vagos da memória. Que era um amante da poesia e que gastava as horas a esboçar
poemas.
Que
cometia erros!
Cometia
erros?
Agora,
ao ver o passado, não consigo evitar o escorregar de um sorriso. Um sorriso
triste, com mágoa, talvez até com raiva e pena de mim mesmo por ter carregado
tanto tempo a surdez do teu coração.
Sim,
é verdade que cometi erros, afinal sou apenas eu, sem efúgios. Sem a conversa
alternativa e abstrata que empregavas nos teus discursos enviesados.
E
os poemas que te lia eram tímidos pedaços de mim. Era uma suave olência de amor
que o meu coração te oferecia em forma lírica. Um buquê de rosas em jeito de
palavras.
E
o silêncio que emanava de ti era tão intenso, tão profundo, que era como se me
desses a escolher entre o vazio e o nada. Escolhi sempre o vazio, segurava a ténue esperança que com o tempo o pudesse encher com algum resto do teu amor.
Não sei se alguma vez o enchi, não me lembro, já passou tanto tempo. Também já não importa. Agora vejo tudo muito mais nítido. Hoje, a olhar o teu rosto esfumado na distância, vejo a simbiose perfeita da ignorância e da perfídia.
Sempre
vivi á bolina dos teus ventos que me perturbava o equilíbrio, ventos hostis da
insipiência, da mentira, da desculpa, como num mar morto onde nada vive.
Ao
olhar para trás, vejo agora que era apenas um recluso em liberdade condicional.
A minha vida era uma nota de rodapé. Um pequeno comentário, uma referência
indigente.
E
eu que cedia á docilidade do prazer de te ver passar. Achava agradável o
sombreado da tua silhueta. Dava por mim a gostar do cheiro das ruas por onde
passavas nesse teu jeito impessoal.
Mas
este hiato do tempo revelou o torpor em que estava adormecido e anestesiado da
tua voz mesclada e bipolar. O tempo, tão sensato, revelou-me que a vida é
poesia, e quem não ouve poesia é um morto-vivo a resvalar nos preconceitos e
maledicência.
Hoje
sou poesia.
Luís
Paulo
E se o destinatário (ou destnatária) não ler a carta e nunca obtiveres resposta?
ResponderEliminarSem destinatário Eli...
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