Terminava
finalmente a espera.
Passos
lentos mas firmes ecoavam a aproximar-se.
Pararam.
“Hoje
tem o direito a escolher o jantar, o que vai escolher?”
O
homem olhou-o triste, olhar vazio, e assim ficou, sem nada dizer.
O
outro, com ar grave, respeitava aquele silêncio, mas em vista da demora viu-se
forçado a intervir.
“Tem
de me dizer se já escolheu algo para o jantar.”
O
homem pareceu despertar dum sono longínquo e disse de voz sumida.
“Desassossego”“Desculpe?”
“Podia-me
trazer o livro do Desassossego? De Bernardo Soares?”
“Se
é esse o seu pedido posso claro, e para o jantar? Pode pedir o que quiser.”
“Basta-me
o livro do Desassossego.”
“Mas
tem de pedir algo para jantar. Tem de comer também”
Insistia
o outro.
“Poesia.”
“Alimentar-me-ei
de poesia.”
Luís
Paulo
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