Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

sábado, 17 de setembro de 2011

Os mediocres


A manhã principiava triste, fria, chuvosa, escura… o termómetro não passaria dos três graus célsius.

O crepúsculo espreitava timidamente no horizonte. --- Cinzelando… prateando as águas da baia

O homem não ambicionava tugúrio. --- Tingido da chuva copiosa… enregelado até aos ossos… permanecia ali… parado… contemplando o vazio.

Tinha um cariz necessitado. --- O sobretudo sujo… esfarrapado… mostrava alguma negligência… as calças, compridas, deixavam aparecer uns sapatos censurados pelo uso… na camisa incolor, sobrevinha uma gravata desmaiada pelo hábito…

Na penumbra. --- Seu rosto curtido pelo sol apresentava docilidade… os lábios finos, rectilíneos, davam-lhe um aspecto nobre. --- Os olhos, pretos, inexpressivos, inabaláveis não contemplavam ponto nenhum… como que olhando para si mesmo…

Como pode o falaz pedir a inteireza? --- Considerava ele com sofrimento…

Era tão bom que praticasses a verdade --- Diz delicadamente o enganador! --- Primeiro para contigo próprio, depois para os outros…

Seu rosto agora era completo de amargura, de uma total ausência, numa luta desigual entre o bem e o mal. --- Como é possível tamanha hipocrisia? --- Pensava. --- Pessoas de quem gostamos e queremos bem, serem assim tão dissimulados?

Então terminantemente considerou. --- Porquê calar a revolta? --- Perguntava-se. --- Porque não exteriorizar o que me consome?

Porque não dar voz ao repúdio inerente em mim?

Será que os medíocres compreenderão? --- Noto-os demasiado incultos.

Seriam palavras deitadas ao vento… ou deitar pérolas a porcos…

São miseráveis na forma voluntaria. --- Humanos imprestáveis… sujos nas suas acções.

Definitivamente, não lhes darei vitória com minhas palavras.

Ficarão com o silêncio do meu repúdio.

O homem de aspecto necessitado pegou no seu alforge, onde carregava seus poucos pertences. --- Com os olhos fustigados pela dor… decididamente, abandonou o local afogando os pensamentos nas águas prateadas e, confundindo-se na madrugada, tornou-se invisível á luz do dia.



                                                                               Luís Paulo





 


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